29 agosto 2011

2011.08.28 - À quarta foi de vez ...

Do Montijo ao Poceirão, 40 km em 3:15h

Uma guerra é sempre dividida em várias batalhas. Umas perdem-se, outras ganham-se. 4 batalhas foram necessárias para vencer a guerra de descobrir uma saída de Lisboa em bici, por vias com reduzido tráfego automóvel em termos de volume e de velocidade. 


A primeira batalha perdida foi tentar sair pelo norte do Tejo até Vila Franca de Xira, mas o exagerado índice de urbanização, as vias demasiado congestionadas e os poucos locais de interesse paisagístico inviabilizaram esta opção.

A segunda tentativa, partir do Montijo em direcção ao Porto Alto, esbarrou com um obstáculo para ciclistas: 10 km a percorrer a EN118, na sua generalidade sem berma e com tráfego de pesados como nunca tinha visto. Demasiado perigosa até para os mais experientes.

A terceira e última batalha perdida foi sair do Montijo para leste, contornando o Centro de Estágio do Sporting. Mas demasiada areia e propriedades privadas com cancelas rígidas inviabilizaram o percurso até Coruche.

Mas as guerras só se dão por vencidas ou perdidas na última batalha. E à quarta vez venceu a bicicleta!


Apanhando no Cais-do-Sodré o cacilheiro moderno para o Montijo, em 25 minutos e por 2,35€ chegamos ao Cais Fluvial do Seixalinho com as nossas bicicletas, a cerca de 3 quilómetros do centro desta cidade de tradições seculares na arte do toureio. Na foto, a pedalar em calçada num jardim arranjado recentemente com vista para o rio.

A antiga linha de caminhos de ferro que servia esta cidade foi em parte convertida em via pedonal e ciclável. Apesar de curta, leva-nos até ao limite urbano, onde começam os estradões, muitos em terra batida e outros asfaltados.

Na zona industrial, que ainda se mistura com a zona rural, as vias permitem uma viagem de bici com calma e segurança rodoviária.

Ainda na zona da indústria transformadora, onde a cortiça é a matéria prima de excelência, já se podem percorrer caminhos que afastam a generalidade dos condutores de veículos automóveis. Os ciclistas agradecem.

O mundo rural avista-se a poucos minutos de bici do centro do Montijo

Sabemos que vamos no bom caminho, quando nos cruzamos com um grupo de ciclistas que seguem descontraídos o seu caminho.

A criação de cavalos é uma visão comum por estes lados

O abandono do cultivo de algumas terras permite a proliferação das silvas, que nos proporcionam nesta altura do ano um momento fresco e doce com as amoras silvestres já maduras.

Próximo do Pinhal Novo, um estradão asfaltado permite um avistamento digno de registo: o Castelo da Palmela, lá bem no alto.

Muitas vezes nos cruzámos com outros ciclistas, que por estas bandas aproveitam a orografia plana e se fazem deslocar de bici.

É comum existirem caminhos de acesso paralelamente às linhas férreas. Aqui aproveitamos um próximo de Lagoa da Palha. Estas vias de comunicação não asfaltadas são utilizadas pelos moradores das quintas e pequenas propriedades contíguas, que se fazem deslocar de automóvel a velocidade reduzida devido ao pavimento, originando uma justa e saudável partilha do espaço público entre peões, ciclistas e automobilistas. E se todas as estradas do centro de Lisboa tivessem pavimento que origina acalmia de tráfego? Muitas delas tinham-no, mesmo já em meados do século XX.

As zonas extra-urbanas proporcionam momentos e visões de encantar que desafiam os 5 sentidos a "verem" o que normalmente não se consegue numa grande e agitada cidade como a capital. As variações de cheiro, de temperatura, de paisagens e de paladares são muitas. E pelo caminho até nos podemos aviar de amoras silvestres, uvas e figos, maduros nesta altura do ano, que por serem gratuitos sabem ainda melhor.

Este estradão de fácil circulação para bicicletas tem quase 10 quilómetros de extensão em linha recta. Vai certamente fazer as delícias (ou provocar o desespero) de quem no futuro percorrer a Ecovia 1 entre Lisboa e Badajoz, sendo este um dos panos de fundo da Etapa 1, toda ela no concelho do Montijo.

A onde de calor que deforma a imagem do silo, lá bem ao longe, não deixa margem para dúvidas. Por aqui as temperaturas de Verão obrigam a que se pedale exclusivamente pela manhã fresca. Entre as 7:00h e as11:00h é o período ideal para as pedaladas reduzindo-se assim o risco de queimadura solar ou insolação.

Placa na berma de uma estrada próximo de Poceirão. Não vou comentar!

A poucos minutos do nosso destino, Poceirão, um estradão asfaltado que provavelmente serve como acesso rural, permite um rolar suave. Sem tráfego automóvel, é um candidato perfeito para ser classificado como Ecovia de Portugal. Existem por todo o País milhares de quilómetros de estradões em terra ou asfaltados como este. Não são necessários fundos da U.E. para os construir nem dinheiro dos contribuintes portugueses, já tão sobrecarregados de impostos. Basta localizá-los, percorrê-los e registá-los em mapa e GPS, para que qualquer pessoa os possa percorrer. Incluindo os estrangeiros!

Estradão em terra, a 1 quilómetro do Poceirão

Voilá, o nosso destino. Já o tínhamos avistado há uns 10 quilómetros atrás, mas é sempre bom saber que onde existe um reservatório de água em altitude, existe uma povoação. 

Nada como um merecido descanso num jardim central do Poceirão, esta pequena localidade até há bem pouco tempo desconhecida da generalidade dos portugueses mas agora na boca do mundo graças o comboio de alta velocidade.
Agora são 13:00h, pelo que depois da bucha resolvemos descansar deitados na relva, debaixo de uma árvore e aguardar que as temperaturas desçam uma pouco para regressar, desta vez até ao Pinhal Novo onde apanharemos o comboio da ponte para Lisboa

O Poceirão é uma pequena localidade na extremidade leste do concelho do Montijo. Tem uma estação de comboios onde só durante a semana o intercidades Lisboa-Évora tem paragem uma vez ao dia. Tem correios, uma agência bancária, farmácia, cabeleireiro, mercearia, 3 ou 4 cafés e claro uma loja do chinês.

O regresso para o Pinhal Novo faz-se pelo mesmo estradão de 10 km, que agora parece mais longo graças ao vento que sopra contra.

Estradões junto aos campos de cultivo de vinha, no concelho do Montijo

4 bicicletas na mesma carruagem num comboio da Fertágus. Só permitem duas, mas é domingo e o tráfego de passageiros é baixo. Apenas alguns adeptos do Sporting que viajam até Entrecampos anulam o silêncio que se fazia sentir até à sua entrada. 

As outras duas bicicletas são de um casal que regressava agora de uma semana de férias a pedalar. Viajaram de Tróia a Sagres, acamparam pelo caminho, e pedalavam 50 quilómetros por dia. "Nas calmas" era a expressão que traziam nas suas caras satisfeitas com esta primeira experiência de viajar de bici por Portugal.

No percurso de Entrecampos, onde saímos do comboio, até ao centro da cidade resolvemos passar pelo alto do Parque Eduardo VII (cota 110m) para terminar as pedaladas com uma vista para o outro lado, o mesmo por onde pedalámos 65 km em estradas e estradões. Na foto, em cima e à esquerda, pode avistar-se o Castelo de Palmela, agora numa perspectiva diferente da da manhã.

Ao final do dia a reposição de energia é obrigatória e fazemos uma paragem no Bairro Alto, onde jantámos numa esplanada de rua, com a Poderosa (Specialized CrossTrail DeLuxe oferecida pela Movefree) e a Baunilha (Electra Townie) a aguardarem por nós.

Ainda esta semana ficará terminado o troço até Coruche, contando que até meados de Setembro tenha todos os 250 km de Lisboa a Badajoz registados e colocados online.

Os habituais agradecimentos à MOVEFREE (MotoVedras) pelo excelente equipamento que ofereceu e por todo o apoio logístico de mecânica dos seus profissionais.

À minha mãe, por todos os dias acender uma vela de azeite a Nossa Senhora de Fátima e rezar por mim.

À Joana, por me ter acompanhado entusiasticamente nesta etapa.

Paulo Guerra dos Santos

3 comentários:

  1. À quarta foi de vez... e foi muito bem!
    Uma experiência nova para mim que adorei e espero repetir!
    Parabéns pelo trabalho!

    ResponderEliminar
  2. Caro Paulo Santos.
    Sempre que venha para estes lado(Montijo, ou zonas proximas)diga alguma que eu e o meu grupo, 100 % BTT Team- Montijo, (http://montijobtt.blogspot.com/), teremos todo o gosto eu mostrar novoso caminhos por estas terras magnificas.
    Um Abraço
    Pedro Filip

    ResponderEliminar
  3. Na foto do Parque Eduardo VII o castelo que aparece não é o de Palmela, mas sim o Castelo de São Jorge. A não ser que usem uns binóculos e mesmo assim acho muito difícil...

    ResponderEliminar