25 julho 2011

2011.07.24 - De Lisboa à Costa da Caparica

A actual crise financeira que influencia o nosso dia-a-dia é uma oportunidade de ouro para que se desenvolvam novas formas de mobilidade e estilos de vida. O elevado preço dos combustíveis (que se prevê venha a aumentar ainda mais), o custo de vida em geral e a falta de expectativas de melhoria no curto/médio prazo bem como o aumento do preço dos transportes públicos, faz com que a bicicleta seja cada vez mais uma alternativa viável para muitas pessoas, em termos de deslocação.

Um dos passatempos mais comuns entre os Lisboetas é o de ir a banhos até às praias da Costa da Caparica. Deslocando-se tradicionalmente em veículo privado ou em transportes públicos, ressurge agora uma forma mais divertida e económica de chegarmos à praia: com a nossa bicicleta no cacilheiro.

Entre a Praça do Comércio em Lisboa e a Costa da Caparica são apenas 10 km ... em ciclovia segregada do restante tráfego automóvel, pedalando facilmente num trajecto com inclinações suaves.

Desde o Cais-do-Sodré onde começa a ciclovia do rio são apenas 5 quilómetros até chegarmos ao cacilheiro do Cais Fluvial de Belém, que em 20 minutos nos leva à pequena vila piscatória da Trafaria na margem sul da foz do Rio Tejo. Mais 4 km a pedalar na ciclovia da Costa da Caparica e em pouco mais de uma hora e um quarto num passeio com vistas bem mais que agradáveis, conquistamos o nosso merecido metro quadrado de areia com vista para o Atlântico. Na foto de cima, as nossas bicicletas no Cais Fluvial de Belém, a aguardar a entrada para o cacilheiro que nos levará à Trafaria.

O transporte de bicicletas é totalmente gratuito em toda a rede da Transtejo e Soflusa (www.transtejo.pt) custando o bilhete ida-e-volta de cada passageiro €1,90 (mais €0,50 se não tiver já um cartão magnético recarregável Lisboa Viva). Hoje contavam-se 12 bicicletas no cacilheiro no espaço reservado para o efeito, numa zona onde não atrapalham os restantes passageiros.

Esta é uma das vistas que se pode ter durante os 20 minutos de travessia do Tejo nestas embarcações com mais de 50 anos de serviço, tradicionais e bem preservadas. De tal forma que é cada vez maior o número de turistas que querem observar Lisboa vista do Tejo, tomar um belo repasto nas muito boas cervejarias e marisqueiras de Porto Brandão e Trafaria ou dar um mergulho nas águas ocêanicas da Costa da Caparica.

Para os que alegam ter uma família muito grande e falam da inviabilidade da utilização da bicicleta como meio de trasporte, este senhor viajava de bicicleta com os seus ... 3 filhos. Nem mais nem menos!

A bicicleta do adulto, com a cadeirinha para o "mais novo" e as duas bicicletas dos dois filhos mais velhos, que já pedalam autonomamente.

A mesma família, a preparar-se para pedalar os 4 quilómetros que separam o Cais Fluvial da Trafaria das praias da Costa da Caparica. A existência da ciclovia permite ao adulto sentir-se em confiança em relação aos mais novos, que assim pedalam em segurança longe do restante tráfego automóvel.

A Joana, que há já algum tempo queria experimentar deslocar-se até à Costa da Caparica na sua bicicleta de passeio, pedalando pela Ecovia 100 (ciclovia do Rio Tejo e Ciclovia da Costa da Caparica). Utilizadora habitual do automóvel, quis viver in loco e experienciar aquilo que já há muito ouvia falar: a sensação de liberdade de ir à praia sem ser fechada na sua lata de uma tonelada, com todas as vantagens associadas a este modo de transporte, nomeadamente uma enorme interacção com o meio envolvente.

A ciclovia permite evitar os habituais engarrafamentos comuns na época balnear, principalmente ao fim-de-semana, altura em que a generalidade dos cidadãos goza os seus merecidos dias de descanso e se faz deslocar até às praias mais próximas da sua preferência. Na foto de cima observa-se a Joana a "ultrapassar" os automobilistas e passageiros que se sujeitam ao trânsito automóvel e que ainda pagam para isso (combustível, portagens, desgaste do veículo, prestação mensal, etc ...).

Já na Costa da Caparica após 10 quilómetros pedalados sempre em corredor exclusivo para bicicletas e 20 minutos de viagem em cacilheiro, enquanto procurávamos o melhor local para estacionar e trancar as bicicletas.

Infelizmente não existem muitos estacionamentos para bicicletas no paredão da Costa da Caparica pelo que qualquer poste, corrimão ou grade terá de servir para esse efeito. Na foto de cima, as bicis amarradas ao corrimão de uma das muitas rampas de acesso à praia, onde não se prejudicam os restantes utilizadores salvaguardando o espaço para passagem. Na foto observam-se ainda as nossas bicicletas juntamente com outras 4, a mostrar que ir de bicicleta até à praia é cada vez mais comum. Em fundo, a Serra de Sintra.

Uma das vantagem da bicicleta é o facto de se poder estacioná-la muito próximo do local de destino. Aqui, as nossas estão tão perto que as avistamos da nossa toalha já estendida na areia. Reduz-se assim a tentação do amigo do alheio garantindo-se uma vigilância permanente ...

Outras bicicletas amarradas num poste.

Outros veraneantes, a deslocarem-se nas suas bicicletas

Uma família ... de bicicleta na praia

Bicicletas para alugar, na Costa da Caparica

Ciclovia no paredão da Costa da Caparica, num pequeno e agradável passeio pela vila

Já no regresso à Trafaria, uma das muitas embarcações de pesca tradicional a invocar outras religiões e uma política do 4+1

É cada vez mais comum verem-se por estas bandas turistas que, aproveitando a visita a Lisboa, alugam bicicletas para se fazerem deslocar até às praias da costa da Caparica

No regresso a Lisboa, pelas 19:30h, a sala de espera para entrar no cacilheiro estava repleta de bicicletas a mostrar que este veículo está mesmo a ocupar o seu espaço na sociedade Lisboeta. Eram 14 ao todo, dos mais variados modelos e tamanhos. Os parabéns à Transtejo e Soflusa, que em termos de mobilidade ciclável estão muito à frente de outros operadores de transportes públicos da Grande Lisboa.

A foto de cima mostra um utilizador de bicicleta e banhista que transporta um chapéu de sol na bicicleta. Engenhosamente apoiou-no no espigão do selim e no cadeado flexível, amarrado junto ao guiador. A sua esposa transportava nos alforges da sua bici toda a restante logística necessária a um dia passado na praia. "Temos de nos desenrascar, amigo!" foram as palavras que ouvi. Respondi-lhe "E faz muito bem meu caro. Só os parvos é que choram em tempos de crise. Os espertos ... vendem lenços!"

O saudável amontoado de bicicletas no cacilheiro, propriedade de pessoas que não se conhecem, vão encostadas umas às outras sem que ninguém se pareça importar com isso. Ao invés, esta forma de viajar promove o contacto fácil entre pessoas que têm objectivos comuns: deslocarem-se em bicicleta e construirem para si próprias um modo de vida "out of the box".

Um rio agitado pelo vento presenteia-nos com explosões de água que algumas vezes nos pulverizam a alma. Lisboa, cada vez mais perto, já se vê em fundo.

Para trás fica a Trafaria e os sinais de actividade portuária

Um cacilheiro atracado em Porto Brandão, uma paragem intermédia entre a Trafaria e Belém

Os tons alaranjados, resultado da luz de um sol rasante ao final de dia, proporcionam-nos uma visão bela do Cristo Rei e da Ponte 25 de Abril. Nada melhor para acabar um dia de passeio e de praia, que regressar a Lisboa num cacilheiro cheio de história e de ... bicicletas.

Para ver mais informação sobre a Ecovia 100, visite www.ecovias.pt.tu , no menu "Mapas&Rotas"

Paulo Guerra dos Santos

15 comentários:

  1. Excelente post! Uma praia um bocadito longe daqui mas quem sabe... Abraço, Maria José

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  2. uma alternativa mesmo ecológica e muito mais divertida! podem checar o mesmo passeio através dos olhos dos peste & sida, numa surpreendente produção em http://www.youtube.com/watch?v=wbXpQea38PY

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  3. Ecovia 100 - de Lisboa à Caparica "CEM" STRESS :)

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  4. É com muito gosto que vamos acompanhando as tuas aventuras e desventuras por terras lusas.
    Tenho muito orgulho do que estás a fazer!
    Força aí em dar o exemplo, em vez nos queixarmos da vidinha que vai mal.
    Vai mal, então muda-se!
    Continuação de boas pedaladas grande Paulo!

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  5. Boas pedaladas ! Estão a fazer um bom e necessário trabalho.
    Se quiserem companhia, apitem!

    Abraço

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  6. Bom, é só para dizer que fizemos este percurso ontem para irmos almoçar à Costa da Caparica! É realmente um percurso muito fácil de fazer, sobretudo na margem Sul. As ciclovias podiam estar melhor construídas ou mais bem mantidas, mas ainda assim foi um passeio muito agradável.

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  7. Diogo, este é um projecto em "open source" :) É aberto a todos e todas as ideias/sugestões são bem vindas.

    Paulo, concordo contigo. Aliás, as pessoas que trabalharam nesse projecto também :) Mas só a fazer e a errar é que se pode melhorar. porque não mandares um mail para a C.M. de Almada com as tuas segestões?

    Boas pedaladas e boa praia.

    Paulo Guerra dos Santos

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  8. Boas,

    descobri esta página ao procurar info sobre esta maneira de chegar ao outro lado, ou seja de bicla.
    Numa proxima oportunidade, tou lá ;)
    Gostei de ler.
    abraço

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  9. Grande Paulo! O q fazes pela utilização das bicis é muito mais do q as entidades responsáveis (autarquias, etc) deveriam fazer elas próprias!

    É lamentável q alguns operadores de transportes públicos continuem avessos ao transporte da bicicleta no mesmo, como é o caso da Fertagus. Só FORA das horas de ponta! A esse propósito escrevi-lhes 1 mail a chamar a atenção para tal anacronismo, e a resposta q recebi, resumidamente e na velha conversa diplomática de sempre, foi 1 rotundo NÃO!

    Mas c/ muita insistência e cada vez mais utilizadores, 1 dia destes terão de rever tal postura! Eu, pela minha parte, desafio-os muitas vezes LOL!

    Keep up the good work!

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  10. Grande Paulo! O q fazes pela utilização das bicis é muito mais do q as entidades responsáveis (autarquias, etc) deveriam fazer elas próprias!

    É lamentável q alguns operadores de transportes públicos continuem avessos ao transporte da bicicleta no mesmo, como é o caso da Fertagus. Só FORA das horas de ponta! A esse propósito escrevi-lhes 1 mail a chamar a atenção para tal anacronismo, e a resposta q recebi, resumidamente e na velha conversa diplomática de sempre, foi 1 rotundo NÃO!

    Mas c/ muita insistência e cada vez mais utilizadores, 1 dia destes terão de rever tal postura! Eu, pela minha parte, desafio-os muitas vezes LOL!

    Keep up the good work!

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  11. Pedro, força nisso.

    Mena, obrigado. Continua a pressioná-los que eles acabarão por rever a sua posição. Boas pedaladas pela patagónia :) Abraço

    Paulo Guerra dos Santos

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  12. Já experimentei este percurso entre Lisboa por belem e a trafaria e é excelente. Inclinação é pouco acentuada e tem ciclovia se for preciso andar mais rápido exitem duas vias em cada sentido.

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  13. bom dia
    tenho uma duvida!ontem passeava no pedonal junto a prai da costa onde ficam os restaurantes e qdo caminho junto ao barbas estou de costas surgem dois adultos pedalando lado a lado eu nao os vejo pk estou de costas faço um pequeno desvio para o lado e quase me atropelavam a minha questao e a seguinte reparei que o passeio e largo mas nao tem uma ciclovia a duvida é a seguinte podem ou nao podem ali circular adultos de bicicleta?

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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  15. É bom ver estas Ciclovias para servir quem vem de fora do Concelho de Almada.
    Para quem mora em Almada e que ir à Costa da Caparica ou outra Praia, vai de transporte o de viatura própria, porque Cilovias nem pensar.
    As ligações para Almada São feitas pelos Capuchos ou pela Trafaria, em estrada sem condições para ciclista e automobilista circularem em paralelo.

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