25 maio 2011

2011.05.24 - de Coruche a Mora

Ecovia 1 - de Lisboa a Monsaraz
Troço 3 - de Coruche a Mora, 40km, 3 horas a pedalar ... nas calmas



Depois da despedida do quartel dos Bombeiros de Coruche onde pernoitei, e depois de um bom pequeno almoço, arranquei da emblemática Praça de Touros de Coruche, pelas 08:30h, em direção a Mora, Alentejo

À saída de Coruche, uma boa surpresa: a Câmara está a criar uma ciclovia paralelamente à estrada que temos de percorrer, não por falta de alternativa mas por ter uma vista extraordinária sobre o vale, até à localidade da Erra a 9 km. Apesar de o tráfego ser reduzido, é sempre mais desconfortável e menos seguro pedalar na berma da estrada. Assim, em breve, existirá uma alternativa exclusiva para ciclistas numa parte deste troço. Espera-se que com o aumento do número de turistas em bicicleta a Câmara avance com o corredor ciclável até ao desvio para o canal de rega.

Esta é a vista para o Rio Sorraia enquanto se pedala até alcançar o canal de rega, a 9km da cidade. A uma cota mais elevada, a estrada municipal bate todas as outras alternativas em termos de panorama

A vista do outro lado da estrada 

Rio afluente do Sorraia, a poucos quilómetros de Coruche

Estradão ao longo do Rio

Criação de gado bovino, uma visão frequente para quem percorre este troço da Ecovia 1

Arrozais

Arrozais

A natureza esculpiu e os nossos olhos contemplam esta obra de arte inacabada com alguns milhares se anos. Uma visão lunar.

Milharais

Um escaravelho (?) a procurar a sombra na roda da Poderosa. Não é o local mais seguro para ele, mas este ciclista é amigo dos bichos e deixa-o seguir a sua vida

A aldeia da Escusa. Um lugarejo perdido no Vale do Sorraia. Tão isolada que nem um café lá existe. Ideal para refúgio de quem quer fugir por uns dias da agitação das grandes urbes

Zonas alagadas e irrigadas pelo Rio Sorraia ou pelos canais de rega artificiais aguardam pela sementeira de arroz 

As sementes do arroz são atiradas à água por uma avioneta que percorre todo o arrozal num ziguezaguear de deixar tonto quem passa cá por baixo. Nunca eu tinha visto chover ou levado um banho de sementes de arroz.

O Vale do Sorraia é uma zona de paisagens rurais e naturais de elevada beleza. Esta foto mostra um Sobreiro a ser sobrevoado por um bando de aves sob com um pano de fundo azul vivo e intenso

Esta poça de água relembra-nos que estamos em zona de leito de cheia do rio. No período da chuva, esta região encontra-se maioritariamente submersa sob milhões de litros de água. Mesmo na época quente, uma chuvada pode tornar intransitável alguns destes estradões para turistas em bicicleta. No Inverno esta zona será ideal sim para bêtêtistas, amantes da lama e outros loucos do pedal. No Verão é perfeita para turistas a viajar de bicicleta

Areia grossa com apontamentos de calhaus rolados ("calhau" é termo técnico para quem não sabe) a dificultar a marcha. Felizmente só são visíveis afloramentos destes à superfície em muito poucos pontos do percurso e nunca em distâncias superiores a alguns metros, facilmente transponíveis com a bicicleta à mão

Mais arrozais

Tempo para descanso e reforço alimentar, numa zona de picnic junto ao Rio sorraia

Broa de Milho de Coruche, Queijo de Azeitão e Nectarina da América do Sul :)

Os canais de rega têm quase sempre um caminho de pé posto que permite a travessia em bicicleta, mas com alguns cuidados, para não irmos a banhos com a bicicleta. A água corre a uns calmos 0.4 metros por segundo (1.44 km/h)

Esta foi única vez que me senti apertado e "empurrado" contra o canal de rega, numa passagem ladeada por um talude natural. Aqui por precaução, apeei da bicicleta e atravessei com a Poderosa à mão

O canal numa zona muito próxima da N251, com o trânsito automóvel a fazer-se ouvir. Por vezes ouviam-se as búzinas dos automóveis, com os condutores como que a dizer "Força nisso, que eu também gostava de estar aí"

Equídeos em reunião familiar

A poderosa escolhe sempre os melhores locais para ser fotografada. Vaidosa com as suas viagens, gosta de mostrar que viajar em bicicleta é possível em Portugal, com pouco esforço físico ou financeiro e acessível a todos

Caminho agrícola a ladear o canal de rega

Pela quantidade de Sobreiros que se avistam, dou comigo a pensar se não terei já entrado em pleno Alentejo

Essa dúvida e aproveitando um momento de descanso, levou-me a ligar o Magalhães 2 para confirmar as minhas suspeitas: Sim! Aqui o tempo já corre mais devagar.

Corre devagar, pois está calor e é a hora da refeição para quem como estas duas senhoras trabalha no campo. Pouco habituadas a viajantes em bicicleta por estas paragens, questionam-me de onde venho, para onde vou e se não tenho medo de ser assaltado. Respondo: "os ladrões não querem roubar coisas que lhes dêem depois trabalho como pedalar. Eles preferem assaltar multibancos"

Gentilmente perguntam-me se quero comer alguma coisa. Sem ser oportunista recuso, pedindo apenas um pouco de água para encher a botija. Pedido que me é concedido.

A falta de pessoas ou veículos a passar por alguns caminhos faz com que por vezes as ervas cresçam ao seu ritmo natural e se tenha de "apalpar" o terreno que se percorre

A viajar por campos e vales a uns estonteantes 11 km/h

Infelizmente alguns proprietários, por receio de roubos ou vandalismo nos seus equipamentos, vedam a passagem do caminho público. Felizmente, deixam uma nesga para as pessoas e as bicicletas passarem

A poderosa em pose, a mostrar todo o seu esplendor

Quase no final do trajecto, a poucos quilómetros de Mora, o Açude do Furadouro faz as delícias de qualquer viajante.

Só acessível a pé, percorremos uns 50 metros para deparar com a força que a natureza tem, quando se juntam milhões de litros de água

Os peixes tentam subir o rio, aqui apenas Rio Raia pois já se separou do Rio Sor, mas deparam-se com a parede de betão do açude. O instinto natural para realizarem a desova mais a montante leva-os a descobrir a passagem criada exclusivamente só para eles, a poucos metros dali. O equilíbrio entre os interesses do Homem e os da natureza a ser salvaguardado por estas bandas.

Os últimos quilómetros até Mora são feitos por estrada em betuminoso com reduzido tráfego automóvel, pois foi construída há alguns anos uma variante que desviou o grosso do volume de trânsito automóvel.

Um outro viajante que me acompanhou a maioria to tempo. montado num dos alforges da Poderosa

A reunião prevista para as 14:30h na Casa da Cultura de Mora aconteceu já depois das 15:00h, em grande parte por culpa da (deliciosa) dose de Feijoada que manjei ao almoço e do gelo que esteve encostado ao meu joelho esquerdo na tentativa de reduzir as dores causadas por uma má gestão do esforço, falta de aquecimento antes do arranque e acima de tudo por um pára-arranca constante para tirar fotos. A Reunião decorreu com o responsável da cultura e com o presidente do clube de BTT "Pedais do Raia", que me deram muito mais informação sobre o seu concelho do que aquela que eu lhes pedi. Entusiasmados com este projecto, também eles perceberam rapidamente o potencial em termos turísticos de uma ligação Lisboa a Monsaraz em bicicleta que traga para estas paragens mais gente de visita à região.

E pelo final da tarde veio a decisão que eu tentei evitar a todo o custo: adiar as restantes 3 etapas deste percurso e regressar a Lisboa para recuperar com calma e deixar o joelho descansar, pois é isso que ele pede. Mas há males que vêm por bem e assim já estou a colocar por escrito o roadbook destas duas etapas já percorridas, por forma a que quem as queira fazer, tenha já em breve toda a informação necessária. Na foto, a comer uma bucha no terminal rodoviário de Mora.

Assim é a vida de quem viaja em turismo por portugal, montado numa bicicleta

Obrigado ao António Luís da Cultura de Mora e ao José Caeiro do Clube de BTT "pedais do Raia" por toda a informação fornecida e pelo entusiasmo demonstrado por este projecto.
Obrigado à Movefree por mais este apoio incondicional

Obrigado à minha mãe por todos os dias rezar por mim e acender uma vela de azeite a N. S. de Fátima

Até breve.
Paulo Guerra dos Santos, Ecovias de Portugal


11 comentários:

  1. Paulo, tenho que te dar os parabéns pelas excelentes fotografias que recolheste! Reconheço o trabalho que dá estar constantemente a desmontar da bicicleta para tirar fotografias, mas olha que com esta qualidade, está a valer bem a pena. :)

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  2. Mais uma vez amigo, estás de parabens e a tua poderosa também...adoro os relatos das tuas aventuras,ja sentia falta disto, é como viajar mas estando aqui deste lado!!Fico ansiosa á espera das tuas proximas etapas!bjsssssssssssssssssss

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  3. Paulo e Fátima, obrigado pelo vosso apoio. O joelho já me deu o seu feedback por lhe ter dado o descanso que pediu e já está nitidamente melhor. As dores desapareceram. Em breve retomo as pedaladas :) Um grande abraço.

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  4. Mais uma vez Paulo Dos Santos estas de parabéns, a mostrar o que de bom tem a bicicleta e o meio ambiente que rodeia, pois pelas fotos que vejo se pudesse já ia com os meus alforges para mais uma aventura.
    Vou acompanhar mais esta jornada, um abraço Carlos Gabriel, V. N. de Foz côa

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  5. Parabéns! Também estou a seguir com atenção o relato deste projecto. É com todo o gosto que, quando um dia passares na minha zona, te darei toda a informação necessária.
    As melhoras para esse joelho (sofremos do mesmo mal).
    http://pisandoopedal.blogspot.com/
    Abraço

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  6. Parabéns Paulo por mais um excelente projecto! Sou capaz de ir para esses lados dentro de uma semanas. Vou andar com atenção a estas páginas. As melhoras para esse joelho.

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  7. Caro Paulo, não posso deixar de lhe fazer um pequeno reparo-Informação: De facto não se trata do Terminal Rodoviário de Mora, (já foi) mas da Sede Social do Luso Futebol Clube Morense, que são agentes, digamos assim, da Rede de expressos.
    De resto, espero que já esteja recuperado do joelho, e que nos visite novamente.

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  8. Caro paulo , as fotografias estão muito boas , espero que o seu joelho esteja melhor e obrigado por referir que a feijoada estava boa , sou o filho dos proprietários do restaurante onde você veio almoçar , o rapaz que o serviu e lhe deu o gelo :)

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  9. segundo percebi ficaste com uma perna fora de jogo.
    É grave?
    de Coruche a Mora não foi assim tão nas calmas...
    gostaria de seguir a via a Monsaraz.
    Eu não tenho jeito de encontrar caminhos fora do alcatrão (oriento-me por mapas rodoviários)

    as melhoras e volta rápido ao trilho ciclista

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  10. Hoje saio do Brasil para fazer o trajeto de Lisboa a Badojos ,começarei a pealar no dia 09/03 e conforme o tempo seguirei rumo a Mérida,Cáceres e Trujillo.
    Caso conheça esta etapa , gostaria de algumas dicas.

    André/Brasil

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  11. Caro André, não sei sabe sabe mas a Ecovia Lisboa-Badajoz já está concluída. Pode ver tudo aqui: www.ecovias.pt.vu

    Descarregue as trilhas para usar no GPS e ver no Google Earth, bem como o roteiro turístico com toda a informação útil.

    Depois dê-nos o seu feedback deste percurso

    Bons passeios.

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